Conduzir por uma estrada que se veste com as cores da estação. Ver Monserrate resguardado do nevoeiro, aconchegado por entre vegetação equatorial. Fazer corridas com o ocioso eléctrico, que não tem pressa de chegar. Encontrar as mesmas gentes, nas mesmas curvas, todos os dias. Conhecer os rituais do senhor da loja de faianças, e passar sempre os olhos pelos seus escaparates de pratos e tigelas que apetece comprar, mesmo que não se saiba para quê. Aprender a domar os ponteiros do relógio, que se atrasam atrás de um tractor, numa estrada serpenteada onde o verbo ultrapassar se conjuga quase sempre com risco. Cumprimentar os patos na ribeira e ser gentilmente cumprimentado por quem não se conhece, rostos que apenas cruzam connosco os seus bons hábitos, aqueles que restaram de uma aldeia não muito longe no tempo e ainda fresca na memória.
Ir ao correio a pé e ter mesmo ao lado a farmácia. O ar perfumado pela lenha que cedo começa a aquecer a casa. Bandos de crianças percorrendo os caminhos de regresso, depois de um dia de escola e conversas que não se esgotam com o pôr do sol. O Oceano ao fundo da rua. O cheiro dos pinheiros e a caruma em cima do carro.
Ter prazer em chegar e ter nostalgia de partir. Encontrar no dia seguinte a paisagem redecorada e sorrir.
Vou ter tantas saudades!
2 comentários:
Saudade do que se vive... permite voltar a viver todas as vezes que o quisermos recordar. Verdade?
Verdade! Excelente perspectiva! Visão de miudaaa! ;-)
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