Hoje sou pai, tenho um filho e duas filhas, e faço o melhor que posso. Preocupei-me em não fazer distinções absurdas na educação dos dois sexos. Disso dei noticia a um amigo que me tranquilizou. Que nada, educar rapazes e raparigas era igual, apenas com uma pequena, subtil diferença. Dizia ele: «tudo igual excepto quando chegam aos 10 anos e o teu filho anuncia que tem uma namorada na escola. Interessas-te, interrogas se é bonita ou feia, loira ou morena, sorris e fazes festas na cabeça, sinal seguro de aprovação. A tua filha chega a casa e declara com idêntico brilho nos olhos, que também ela, na Primária, tem um namorado. Resposta imediata, ancestral, e, no fundo, higiénica: Qual namorado qual quê, vamos mas é tomar banho!»
Era o que eu temia.
Os pais são o terror dos pediatras. É cada vez mais frequente as crianças virem à consulta trazidas pelo pai. A mãe? Pergunto, e quase sempre a resposta indica uma obrigação profissional, uma reunião de trabalho, uma viagem ao estrangeiro. Porém, esta igualdade entre os sexos é mais aparente do que real. Experimentem perguntar ao pai moderno informações essenciais, como a data das vacinas, ou o inicio do andar, a necessidade de receitas ou análises, e verão surgir de pronto, tímido, o telemóvel, e a pergunta envolta numa bruma de embaraço óbvio: « O Doutor importa-se que ligue à minha mulher?».
As palavras são, mais uma vez, de Nuno Lobo Antunes. Não, não é impressão vossa, ando a ler o Sinto Muito! Este texto foi retirado da crónica Dia do Pai.
Tenho cá para mim que há aqui uma verdade assumida e outra escondida, ainda que com o rabo de fora... A primeira é que, por muito cúmplices que os pais sejam das suas meninas, a chegada de um aventureiro à vida delas os deixará sempre com o coração nas mãos. A segunda é que, verdade, verdadinha, muitos pais sempre tiveram alguma pena de se verem tão afastados da educação dos seus filhos, de os acompanhar de perto no seu crescimento. E talvez seja menos importante procurar culpados do que recuperar, tão rapidamente possível, o tempo perdido. Estes recentes pais presentes são cada vez mais e melhores e, ainda que gatinhando, anseiam crescer e ficar grandes. Assim estejam todas as mães dispostas a ajudar!
2 comentários:
Já li este livro e adorei! Acho fantástico como se pode expressar sentimentos desta maneira. Rita Pereira
Olha que giro! Tb. estou a ler este livro. Ainda bem que encontro alguém na mesmo situação que eu! Estou a gostar imenso. Já agora, aproveito para agradecer mais uma vez a quem mo ofereceu.
Alda
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