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domingo, 19 de abril de 2009

Por todas as Teresas

Não posso dizer que, à semelhança do que algumas mulheres dizem, tenha sido daquelas que, depois de ser mãe, tenha passado a olhar para a vida de uma outra forma. O mundo à minha volta nunca me foi indiferente e as mais diversas necessidades dos outros sempre me moveram no sentido do seu alivio. Nunca senti, por isso, mais cumplicidade pelo sofrimento de uma criança depois de ser mãe ou mais empatia com o sofrimento de quem sofre por um filho, depois da minha maternidade. Ver um filho sofrer, seja por que razão for, é talvez das dores mais intoleráveis que se pode ter. Perdê-lo, então, não tem sequer abordagem possível. No entanto, foi depois de ter sido mãe que tomei a decisão de uma coisa na qual já antes reflectia mas sem nada fazer. Tornar-me dadora de medula óssea. Porquê? Porque um dia, olhando para a minha filha, e pensando que havia crianças a morrer aquela hora apenas por falta de um dador compatível, percebi que se todos nós tivéssemos consciência de que podemos dispor, dentro de nós, da cura de alguém, não hesitaríamos em dizer: Tome, leve o que quiser! - só para poder manter aquele sorriso terno, espelhado num inocente rosto. Sim, nesse aspecto, ter sido mãe fez-me olhar para esta realidade da responsabilidade cívica, do humanismo, do altruísmo- do que lhe quiserem chamar- de uma outra forma.
E agora, mais do mesmo, por outro prisma:
Já há algum tempo que venho recebendo, em jeito de corrente, o apelo do vídeo aqui acima, por e.mail. Há muito que me habituei a desvalorizar estas e outras correntes, por motivos que julgo que a maioria de vocês também conhecerá e partilhará. Em todo o caso, no que toca a pedidos de dadores de medula óssea, se forem verdadeiros, sei que a minha parte está feita. Em 24 de Setembro de 2003 formalizei a minha inscrição no CEDACE - Registo Português de Dadores de Medula Óssea - no centro de Histocompatibilidade do Sul. Ou seja, se não fui chamada, recentemente, para fazer mais exames, é porque não posso ajudar a Teresa, a Rita, o Daniel ou qualquer outra criança ou adulto que de tão pouco, e ao mesmo tempo tanto, de mim necessita. Não me serve de consolo, mas sei que em consciência fiz por eles tudo o que estava ao meu alcance: dar, em nome da sua vida, uma parte de mim que, ainda por cima, nem se quer me faz falta.
A este vídeo cheguei por aqui, que é um lugar por onde vale a pena andar, pelas mais diversas razões. Neste caso o mérito foi o de me fazer pensar que, afinal, talvez ainda não tivesse feito tudo o que estava a meu alcance para ajudar nestas situações. Tenho esperança de que o meu relato pessoal neste post possa cumprir essa finalidade. Porque um blog também deve, às vezes, ter um fim maior.

1 comentário:

Rita Almeida disse...

Tudo o que dizes, concordo, partilho e assino por baixo. Se podemos fazer pelos outros e dar-lhes um sorriso na cara, porque não o fazer? Ainda por cima quando isso não nos custa quase nada. Às vezes o que para nós é um pequeno gesto, para os outros é grande!
Beijoca e xi-coração
Rita