
Em que a chuva também nos molha por dentro e nos deixa a alma encharcada.

Felizmente, a maior parte das crianças de hoje já percebeu que o diabo é apenas mais uma opção de máscara de Carnaval ou de Dia das Bruxas. O tipo até é engraçado, atrevido, diferente, e no seu provocante vermelho e preto, com rabo em forma de seta, até parece uma espécie de supre-herói das partidas. É por isso que, se lhes dissermos que hoje ele anda à solta, elas vão perceber que este vento, que traz tudo pelo ar e nos deixa literalmente de cabelos em pé, só pode ser obra de um capeta tão divertido! E, se não podes vencê-lo, que tal juntares-te a ele? Ao capeta? Não, ao vento!
Hoje sou pai, tenho um filho e duas filhas, e faço o melhor que posso. Preocupei-me em não fazer distinções absurdas na educação dos dois sexos. Disso dei noticia a um amigo que me tranquilizou. Que nada, educar rapazes e raparigas era igual, apenas com uma pequena, subtil diferença. Dizia ele: «tudo igual excepto quando chegam aos 10 anos e o teu filho anuncia que tem uma namorada na escola. Interessas-te, interrogas se é bonita ou feia, loira ou morena, sorris e fazes festas na cabeça, sinal seguro de aprovação. A tua filha chega a casa e declara com idêntico brilho nos olhos, que também ela, na Primária, tem um namorado. Resposta imediata, ancestral, e, no fundo, higiénica: Qual namorado qual quê, vamos mas é tomar banho!»
pelas linhas e entrelinhas traçadas por Anabela Mota Ribeiro, António Lobo Antunes, finta, esquiva-se e chuta para canto, sempre que o jogo aproxima um golo à baliza dos afectos. A propósito da confissão de que apanhava pancada, Anabela Mota Ribeiro deixa no ar a frase: Normalmente não fala disso. Fala é de não lhe darem beijos ou um prato com bolachas e leite quando estava doente. Lobo Antunes prossegue o seu jogo, noutra direcção. Ela, estrategicamente distraída, deixa-o ir para mais à frente tornar a frase solta nisto: A pergunta é: porque fala menos da violência física que da violência emocional. De não ter sido mimado. O menino-homem dribla e brinca com a bola. Não responde. Ela deixa-o entretido, para que seja ele a distrair-se e, mais à frente, implacável: No Arquipélago da Memória escreve: "Se me abraçassem, recusava indignado, e no entanto abracem-me." E a outra, referindo-se à personagem Mãe: "Uma ocasião pegou-me na cara, tive medo que me desse um beijo". Desta vez já não fugiu. Falava-se não de si mas das suas personagens... Na resposta, depois de uma reflexão final em que diz: "Temos tanta dificuldade em aceitar aquilo que mais desejamos", é ele quem acaba por fazer uma pergunta: "As pessoas deste livro pedem muita ternura, é?". A entrevista podia ter acabado ali.
Não me lembro, nem em miúda, de alguma vez ter sonhado ser cantora, assim como também nunca tive nenhuma apetência pela aprendizagem de um instrumento. Não foi por isso, por essas razões, que esta história me fez lembrar o valor dos sonhos na nossa vida.

E se, a brincar a brincar, descobrisses um livro que, de A a Z percorresse os nomes de meninos e meninas que conheces e que, talvez, até andem lá por casa? E se o abrisses e descobrisses dentro dele um mundo de coloridas e divertidas ilustrações capazes de nos contagiar pela cor, movimento e forma? Eu já descobri, e gosto de partilhar (alguns) segredos!... Logo à noite sei que vai ser mais fácil!!!! ;-)
