Sexta-feira, no sofá. Uma conversa cúmplice, ao fim do dia, ao fim de uma semana de relógios, horários e correrias. Descosia-se e alinhavava-se uma conversa mal contada, sobre uns acontecimentos recentes na escola. Tudo esclarecido, um abraço, um encontro de corpos, o calor dos afectos, um momento de paz. De uma cara escondida, escudada nos meus braços, saiu uma confissão. Uma expressão tantas vezes ouvida mas nunca antes por si pronunciada: Amo muito a minha mamã.
Aos nove anos, percebemos que a palavra pesa, que não se diz por acaso e, sobretudo, que por ali andava há muito por dizer, por retribuir, mas que faltava a coragem, ou talvez o momento, para que as asas da timidez que a prendia dentro de si quisessem voar e deixa-la partir sem medo, para o exterior.
Não são só os adultos que têm medo das palavras. Talvez a diferença esteja mais na familiaridade que podemos ganhar ou não com elas, desde crianças.
Não ficou com dúvidas da importância daquele momento para mim. Sorriu, cúmplice, entre a timidez e o orgulho, por ter conseguido finalmente conjugar aquele verbo na primeira pessoa.
Que melhor presente de Natal pode receber uma mãe quando, além de se sentir amada, percebe que a sua filha progride com confiança no campo das emoções?
1 comentário:
... é o presente mais valioso.
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